ETNOTURISMO: ALDEIAS DO NORTE DO MATO GROSSO APRESENTAM POTENCIAIS PARA O TURISMO

Visando expandir o etnoturismo – turismo ecológico em terras indígenas, o estado Mato Grosso vem precedendo no desenvolvimento do novo modelo de passeio cultural, oferecido àqueles que optam em conhecer as atividades e hábitos do dia a dia dos indígenas.

Rituais como a dança do Aruanã e do Hetohokÿ (simbolizam a transformação da vida das meninas e dos meninos para a juventude), acesso a paisagens exuberantes, contato com práticas esportivas tipicamente indígenas, além da forma anfitriã de acolher suas visitas, com artesanatos que representam seu povo, são os diferenciais ofertados por este setor que vem ganhando espaço, nos últimos anos.

O indígena do Mato Grosso já entendeu que a solução para a mudança social e sobrevivência do seu povo está na participação ativa, tanto no âmbito político, como no âmbito econômico. Para tanto, o incentivo do turismo, em comunidades indígenas, tem sido a principal solicitação dos silvícolas à FUNAI. “Falar pelo Índio é uma fusão de direito e dever do próprio índio; e não abrimos mão de tal prerrogativa”, disse o cacique Carlos, da aldeia Hawalorá.

A descoberta do ecoturismo em terras indígenas é exemplo de atividade inteligente e sustentável, pois incentiva o índio a conservar, não só a floresta, em sua originalidade, mas também seu pertencimento étnico, através de tudo aquilo que lhe faz índio, a saber, língua, cultura, crença e estilo de vida.

A grande procura por este atrativo [inclusive por estrangeiros] tem motivado empresas de turismo a se engajarem na capacitação de seus profissionais, e assim, criarem parcerias com as lideranças indígenas, na busca de um negócio lucrativo para ambas as partes.

As iniciativas de etnoturismo em terras indígenas são disciplinadas pela Instrução Normativa nº 3 da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A FUNAI explica que a regulamentação do etnoturismo é importante para que cultura e costumes sejam preservados. A falta de fiscalização e de controle tornam os povos vulneráveis. De acordo com a fundação, as comunidades indígenas têm autonomia para explorar projetos de turismo em seus territórios, cabendo ao poder público o papel de monitorar e fiscalizar as atividades nas aldeias.

 O Parque Indígena do Xingu, terceiro maior do mundo, localizado no norte de MT, entre o Planalto Central e a Amazônia, e a Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do planeta, localizada na tríplice divisa de Mato Grosso, Tocantins e Goiás, guardam, em seus santuários ecológicos, patrimônios naturais cujos guardiães são os próprios indígenas que ali habitam, e que só tiveram seus primeiros contatos com o Turi (homem branco), 300 anos após a descoberta do Brasil.

Habitada, aproximadamente por 20 etnias, totalizando mais de 8.000 índios, os dois cenários – exuberantes por natureza, têm atraído interesses político e empresarial para a região, a fim de incentivar e desenvolver o turismo em terras indígenas.

Em deferência à importância do tema, o site Primeira Fonte Notícias foi até a “morada do fato”, conhecer as potencialidades das aldeias para a atividade turística, com destaque aos povos Kayapó, Tapirapé, Karajá e Canela.

Após dias, percorrendo de carro em estradas de terra, orientado por GPS, atravessando rios caudalosos, dormindo em aldeias, ouvindo histórias e conhecendo de perto cada comunidade indígena, restou concluir o quanto esse povo é capaz de nos enriquecer, sob o ponto de vista cultural e humano. Recepcionalidade impecável! A organização, limpeza e trabalho foram pontos de destaques em todas as aldeias visitadas.

Povo Kayapó

Sob a orientação do líder indígena Raoni (indicado ao ilustríssimo prêmio Nobel da Paz), o povo Kayapó mantém sólida suas tradições. A Capoto, coordenada pelo cacique Patoit Metuktire, é a maior e principal aldeia da terra indígena Capoto Jarina.  Nela é possível o acesso de carro e avião de pequeno porte. Seguindo pela rodovia MT 322, após a travessia da balsa sobre o rio Xingu, encontramos a aldeia Piaraçu, liderada pelo cacique Bedjai Txucarramãe. Na Piaraçu os nomes dos irmãos indigenistas Villas Lobos são cultuados como heróis. O acesso à a aldeia Metuktire se dá pelo rio Xingu, e só é possível de barco ou de avião de pequeno porte. Lá está fincada a pérola de toda preservação e respeito à natureza. De fato, é a aldeia modelo para o equilíbrio sustentável.

Povo Tapirapé e Karajá

A terra indígena Urubu Branco, localizada em Luciára, Confresa e Porto Alegre do Norte, é a principal área do povo Tapirapé. Nela existe a aldeia Urubu Branco, localizada em Confresa, no sopé da serra que dá o nome à terra indígena, de acordo com Elber, cacique geral de todo o povo Tapirapé. Próxima à aldeia está a cachoeira do bebedouro, região sagrada em razão da pureza da água que corre ali e de sua ininterrupta reverberação, semelhante ao canto da cigarra. A aldeia Buriti e Santa Laura merecem destaque no artesanato e na organização da agricultura familiar. O respeito aos mais velhos, em razão de sua sabedoria é visível nessas comunidades.

Na terra indígena Tapirapé Karajá, localizada nas cidades Luciára e Santa Terezinha, vivem, harmoniosamente, o povo Tapirapé, Karajá e Canela. Às margens do rio Araguaia, sob o comando do cacique Moacir, a ITXALÁ é a principal e maior aldeia da região. O horizonte tomado pelo Araguaia, marcado pelos bancos de areia serpenteados pela divisa natural de MT e TO compensa qualquer sacrifício, principalmente se o visitante aguardar o pôr do sol. A aldeia Hawalorá, cujo cacique é Sr Carlos, dispõe de uma mãe natureza exclusiva, às margens de um braço do rio Araguaia. Farto em peixes, na baixa do rio, praias surgem formando lagos, onde os visitantes se divertem com as tartarugas que tomam conta do cenário.

Passando pela charmosa cidade Luciára, encontramos outros Tapirapés, pertencentes à terra indígena São Domingos.  Distante apenas 03 km da cidade, chega-se à aldeia São Domingos e Teribré, privilegiadas pela vista exuberante e vizinhas da lagoa dos veados. Formada por águas límpidas, a lagoa dos veados proporciona visibilidade dos botos a alguns metros de profundidade. Cacique Célio, pedagogo responsável pela a educação indígena das duas aldeias, é encarregado em manter viva as tradições herdadas por seus ancestrais, “ainda que o índio usufrua da tecnologia e de outras benesses do branco, a essência indígena mantem-se imutável”, assim filosofou o grande cacique, durante a cerimônia do ritual sagrado do Aruanã.

Considerando que cada aldeia possui autonomia para aderir ou não a qualquer tipo de projeto, agências de turismo têm se aproximado das lideranças com objetivo de montar pacotes de visitas e oferecer no mercado.

O novo segmento tem demonstrado que a abertura de aldeias a turistas proporciona diversos incentivos, dentre eles, a divulgação da cultura, a liberdade de viver como índio e ao mesmo tempo a possibilidade de gerar renda e emprego para a aldeia.

  • Cacique

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