VIDAS NEGRAS IMPORTAM

O racismo no Brasil já acontece há muito tempo, só que hoje está ganhando visibilidade e as pessoas estão entrando na luta para combater o racismo. Eu – Manoel, jovem, negro e periférico, sei muito bem o que é sofrer racismo. Na minha juventude, quando sentava com meus amigos na porta de casa, uma certeza eu tinha: se a polícia passasse, nós iríamos ser abordados, sabe por que? Por sermos negros e ouvindo funk, termos tatuagens. Todas essas características fazem a polícia pensar que somos bandidos, porque o racismo é institucional.

Foto: Manoel Silva – presidente do Conselho Estadual da Promoção e Igualdade Racial

Sabemos que no Brasil existe uma cultura de violência contra as comunidades negras. A morte do garoto negro, João Pedro, 14 anos, no Rio de Janeiro, é parte dessa escalada de violência que atinge a todos, mas, em especial, os negros e os mais vulneráveis economicamente.

A cada 23 minutos um jovem negro é morto no Brasil, me vejo como uma exceção de um jovem negro que teve acesso a uma educação de qualidade e foi o primeiro da sua família a concluir um curso superior, venci algumas barreiras e desafios. Não foi  [e continua não sendo]  fácil e luto todos os dias para que não seja um dos jovens negros que morre a cada 23 minutos. Quando um jovem negro, como João Pedro, é morto pela polícia, eu sinto essa dor, porque infelizmente é mais um sonho que se acaba ali, nosso Estado é o que mata preto, pobres e periféricos.

Os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Hoje, no Brasil, estamos vendo manifestação frequentemente e se pararmos para pensar quantos jovens negros já morrem e agora que a sociedade está acordando e vendo que existe racismo, que a juventude negra é que mais morre e, infelizmente, a que mais mata. Os brasileiros estão vendo que esse debate de vidas negras que nós, ativistas, vínhamos denunciando, não é “mimimi “ é a realidade do nosso país. E que o governo precisa criar conjunto de políticas públicas, especialmente  de expansão e fortalecimento da universidade pública, de qualificação e valorização do ensino fundamental e médio da rede pública e de integração de políticas de Estado que visem o crescimento econômico, criação de empregos e distribuição de renda para a juventude negra .

A juventude negra quer viver, quer ocupar os seus espaços, queremos realizar nosso sonhos.  Parem de nos matar, vidas negras importam.

Artigo escrito por – Manoel Silva, jornalista, presidente do Conselho Estadual da Promoção e Igualdade Racial, Conselheiro da Juventude e membro do Comitê de Enfrentamento e Prevenção ao Tráfico de Pessoas.

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